quarta-feira, 12 de julho de 2023

O CASAMENTO E O PECADO DA FORNICAÇÃO

 

Paulo David
1 Tessalonicenses 4: 3. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação;
‘Fornicar’ tem origem arquitetônica. Na Roma Antiga, as estruturas em forma de arco que sustentavam pontes, galerias e portões eram chamadas de ‘fornix’. Era sob os fórnix que as meretrizes sem local adequado para desempenhar seu trabalho ficavam.
O verbo ‘fornicare’, inicialmente, significava cobrir com uma abóbada, um arco, um fórnix. Se um romano dissesse “o salão está quase pronto, só falta fornicar” não seria mal interpretado.
Com o tempo, as damas que atuavam na fórnix passaram a ser chamadas ‘fornicatrix’ (fornicária), um nome parecido com o ‘meretrix’, e fórnix passou a ser tanto a cúpula quanto a cópula. [Ah... O jogo de palavras! 😍]
Na tradição religiosa, ‘Fornicare’ passou a significar ‘manter relação sexual ilegítima’, relações sexuais sem o vínculo do casamento…Inclusive, muitas traduções antigas da Bíblia apresentavam o sétimo dos Dez Mandamentos (Deuteronômio 5:18) como “Não fornicarás”. Aqui, tomava-se o sentido do adultério.
O ‘fornix’ sexual apareceu em português como fornício ou fornízio. Se o fornício resultasse numa gravidez, o filho da meretriz era pejorativamente chamado de fornizinho, um xingamento do séc XVII equivalente ao FDP atual. Hoje, fornízio, fornício e fornizinho são palavras obsoletas.
📚 Referências: ‘Novo diccionário da língua portuguesa’, por Cândido de Figueiredo (1913); e ‘Eponímia: glossário de termos epônimos em Anatomia’, por Geraldo Fernandes (1999).
📸 Foto: Ponte Emília, em Roma, por Patrick Denker/Flickr (2006).
Em nosso mundo injusto e hipocrita, uma das condições mais degradantes para uma mulher é a condição de prostituta.
No tempo de Jesus não era diferente, mas em nenhum momento encontramos Jesus julgando ou condenando as prostitutas.
Sabe por que?
Porque Jesus nunca pisaria a cana quebrada.
Mateus 12: 18. Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e anunciará aos gentios o juízo. 19. Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz; 20. Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo; 21. E no seu nome os gentios esperarão.
Ele sabia que nenhuma mulher torna-se prostituta por livre escolha.
Por outro lado, no Novo Testamento, o comprar favores sexuais de uma mulher sempre é tratado como um pecado sério diante de Deus.
Por que?
Por se tratar de uma forma de abuso e exploração.
Assim quando a prostituição é condenada no Novo Testamento não é propriamente a prostituta que está sendo condenada, mas aquele que a produz, que a compra, que a explora, que abusa dela.
No olhar do Novo Testamento, no olhar de Jesus, um cristão, um seguidor de Jesus, alguém que foi liberto por ele de toda forma de escravidão, nunca poderia tratar uma mulher como uma escrava, abusando dela.
Mas a religião nunca viu ou verá essa questão como Jesus a vê.
No tempo de Jesus, naquela cultura, muitas mulheres repudiadas acabavam virando prostitutas para sobreviver. Moisés havia dado permissão na lei para que um homem repudiasse sua mulher se já não a queria mais.
A religião não pode negar seu vício de origem, que se manifestou desde Caim, e que carrega a natureza do homem do pecado, o egoísmo que sempre quer controlar para poder explorar.
A própria distorção da palavra fornicação para “sexo fora do casamento”, distanciando do sentido original da palavra, “prostituição“, mostra o quanto a religião continua vendo o sexo, especialmente o da mulher, como sendo algo restrito e pertencente à propriedade do homem, e o casamento, uma forma de legalização dessa propriedade, pois num certo sentido no casamento é como se a mulher acabasse se tornando uma prostituta de um homem só, sendo obrigada a servi-lo sexualmente com exclusividade. Veja o Velho Testamento e a lei de Moisés, onde um homem poderia ter tantas mulheres quanto quisesse, reforçando a ideia de que a mulher existe para ser uma propriedade do homem.
De fato Deus inventou o amor e o sexo, a religião por sua vez inventou o casamento, como uma forma de controle do homem sobre a mulher, que não deixa de ser uma forma de escravidão, como muitas outras que a religião apoiaria em toda a história humana.
Basta uma olhada no Novo Testamento, sem o véu religioso, para compreender que o sexo só pode ser considerado pecado quando é fruto do egoísmo, quando não é consensual, quando é feito com desonestidade, mentira, quando é irresponsável, quando envolve algum tipo abuso ou sofrimento.
Um exemplo disso é o adultério, que é pecado porque envolve engano, infidelidade, traição.
Certa vez Jesus disse sobre o sábado, que este havia sido feito para o homem (seres humanos) e não homem para o sábado. Isso vale também para o casamento, vale para o sexo, vale para tudo.
Gálatas 5: 14. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Esse é o único critério ensinado por Jesus para considerar alguma coisa pecado. Se viola a lei do amor ao próximo, é pecado, se é motivado por amor ao próximo, não é pecado.
Tem muito casamento que não passa de uma fornicação legalizada pela religião e pelo Estado e tem muita gente que não é casada fazendo amor de verdade.
Se o casamento tivesse sido inventado por Deus haveria na eternidade.
Lucas 20: 34. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento; 35. Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento; 36. Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.