Como
temos visto nos capítulos precedentes, a Bíblia ensina, de modo
coerente, a unicidade de Deus. No entanto, a igreja, hoje, quer nos
fazer crer que, através de toda a história, a igreja cristã tenha
aceitado a doutrina da trindade. Será verdade? Os líderes da igreja, na
era pós-apostólica, eram trinitarianistas? Há, na história da igreja,
pessoas que tenham acreditado na Unicidade?
Em
nossos estudos sobre esse assunto, chegamos a três conclusões que
passaremos a discutir neste capítulo. 1- Tanto quanto podemos afirmar,
os primeiros líderes cristãos, nos dias que se seguiram imediatamente à
era apostólica, acreditavam na Unicidade. Não há dúvidas de que jamais
ensinar a doutrina da trindade, como ela se apresenta mais tarde e como
existe nos dias de hoje. 2- Mesmo após o aparecimento da doutrina da
trindade, na parte final do segundo século, ela não tomou o lugar da
unicidade, como doutrina dominante até por volta de 300 d C., e não se
estabeleceu universalmente senão mais tarde, no quarto século. 3 - Mesmo
depois do crime de Arianismo se tornar dominante, os crentes da
unicidade continuarão a existir através de toda a história da igreja.
A Era Pós-Apostólica
Os
historiadores da igreja concordam que a doutrina da trindade não
existiu, como a conhecemos hoje, imediatamente depois da era
pós-apostólica. (veja o Capítulo 11 - TRINITARIANISMO: DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO.)
Os líderes cristãos que vieram logo após os Apóstolos e não se referiam
a uma trindade, antes, afirmavam sua crença no monoteísmo do Velho
Testamento e aceitavam sem questionar a Divindade e a humanidade de
Jesus Cristo. [30]
Uma vez que esses líderes deram ênfase a doutrina associadas à
Unicidade, podemos supor que a igreja pós-apostólica aceitavam a
unicidade de Deus.
Os
mais prementes patriarcas pós-apostólicos foram Hermas, Clemente de
Roma, Policarpo e Inácio. Seu ministério abrangeu o período de mais ou
menos 90 a 140 d.C.
Irineu,
um preeminente líder cristão, que morreu por volta de 200 d.C., tinha
uma teologia essencialmente Cristocêntrica e a crença firme de que Jesus
era Deus manifestado em carne. Ele acreditava que o Logos, que se
encarnou em Jesus Cristo, estava na mente de Deus, e era o próprio Deus.
[31]
Alguns
estudiosos classificam Irineu como um crente na "trindade econômica".
Esse ponto de vista afirma que não há trindade eterna, mas, apenas, uma
trindade temporária. É muito provável, portanto, quem Lineu acreditasse
numa tríplice idade de papéis ou atividades de Deus mais do que numa
trindade de pessoas, acreditando, assim, na Unicidade. O certo é que ele
não acreditava na doutrina da trindade do modo como ela se estabeleceu
mais tarde.
Não
encontramos referências à trindade como tal os primeiros escritos
pós-apostólicos; eles se referem a apenas um Deus e a Jesus como Deus.
Possíveis referências a uma emergente doutrina trinitarianista,
entretanto, aparece em alguns escritos do segundo século, principalmente
em algumas referências que parecem apontar a uma fórmula batismal
triúna.
Há
várias explicações possíveis para essas poucas referências a um conceito
trinitariano, existentes nesses escritos. 1 - Os leitores e estudiosos
trinitarianistas podem ter entendido mal essas passagens devido a sua
própria tendência, assim como interpretaram mal as passagens bíblicas
tais como Mateus 28:19. 2 - há uma forte possibilidade de que os
copistas trinitarianistas, mais tarde, intercalaram (adicionaram)
passagens de sua própria autoria -- uma prática muito comum na história
da igreja. Isso é muito provável uma vez que as únicas cópias existentes
desses primeiros inscritos foram feitas centenas de anos após os
originais. Existe, por exemplo, um escrito primitivo chamado Didakhe que
afirma que a comunhão deveria ser ministrada apenas àqueles que são
batizados no nome do Senhor, mas menciona, também, o batismo em nome do
Pai, do Filho, do Espírito Santo.
[32] Entretanto, a cópia mais antiga existente do Didakhe está datada de 1056 d.C. [33]
Sem dúvida falsas doutrinas já tinham começado surgido entre a igreja,
em alguns casos. De fato, falsas doutrinas existiam mesmo nos dias
apostólicos (Apocalipse 2 e 3) até mesmo falsas doutrinas a respeito de
Cristo (II João 7; Judas 4). Levando tudo isso em consideração, no
entanto, concluímos, a partir da evidência histórica, que os líderes da
igreja, nos tempos que se seguiram imediatamente aos dias dos doze
apóstolos de Cristo, acreditavam na Unicidade.
Unicidade -- A Crença Dominante No Segundo e No Terceiro Século
Temos
salientado que a unicidade era a única crença significativa nos dois
primeiros séculos, com relação à Divindade. Mesmo quando formas de
binitarianismo começaram a se desenvolver, não alcançaram projeção senão
no final do terceiro século. Durante esse tempo, havia muitos notáveis
líderes e mestres da Unicidade que se opunham à essa mudança na
doutrina. (para apoio à nossa afirmativa de que a Unicidade era a crença
predominante durante o período que se seguiu aos apóstolos veja o
estudo intitulado "Monarquianismo Modalistico: Unicidade na história da
Igreja Primitiva", no final deste capítulo. É um estudo a respeito dos
maiores mestres da Unicidade e sua doutrina durante esse período da
história da igreja).
Monarquianismo Modalístico
Monarquianismo
Modalístico é o termo usado, muitas vezes, pelos historiadores da
igreja para se referir ao ponto de vista da Unicidade. A enciclopédia
Britânica o define do seguinte modo:
O
Monarquianismo Modalístico, aceitando que toda a plenitude da Divindade
habita em Cristo, se opôs à "Subordinação" de alguns escritores da
igreja, e sustentou que os nomes Pai e Filho eram somente diferentes
designações do mesmo sujeito, o único Deus, que 'com referência às
relações que tinha previamente mantido com o mundo é chamado Pai, mas
que com referência à sua aparição em humanidade, é chamado o Filho”.[34]
Os
mais prementes líderes modalistas foram Noetus, de Smirna ,Práxeas, e
Sabellius .Noetus foi mestre de Práxeas, na Ásia Menor; Práxeas pregou
em Roma, por volta de 190, e Sabellius pregou em Roma por volta de 215. [35]
Por ser Sabellius o mais conhecido dos modalistas, os historiadores,
muitas vezes, chamam a doutrina de Sabelionismo. Sabellius se baseou
fortemente nas Escrituras, especialmente em algumas passagens, tais
como: Êxodo 20:3, Deuteronômio 6: 4 Isaías 44:6 e João 10:38.[36]
Ele disse que Deus revelou a Si mesmo, como o Pai na criação, Filho na
encarnação e Espírito Santo na regeneração e santificação. Alguns
interpretam essa afirmativa como querendo dizer que ele acreditava que
essas três manifestações fossem estritamente consecutivas no tempo. Se
for assim interpretada, Sabellius não refletia as crenças do antigo
modalismo ou da moderna Unicidade.
A
Enciclopédia Britânica descreve da seguinte maneira, a crença de
Sabellius: "Sua proposição central era, com efeito, que o Pai, o Filho e
Espírito Santo são a mesma pessoa, três nomes ligados a um mesmo ser. O
que mais pesava para Sabellius era interesse monoteísta".[37]
Encontramos
muito de nossa informação sobre os modalistas em Tertuliano (falecido
em 225), que escreveu um trabalho contra Práxeas. Nesse tratado ele
registrou que durante o seu ministério, "A maior parte dos crentes"
aderiu a doutrina da Unicidade.
"O
simples, na verdade (não os chamarei de ignorantes ou iletrados) que
sempre constituem a maioria dos crentes, são iniciados na dispensação
(de três em um), no próprio terreno em que sua regra de fé e os traz da
pluralidade de deuses do mundo para o único Deus verdadeiro; não
entendendo que, embora Ele seja o único Deus, tem que ser aceito em sua
própria economia. A ordem numérica e a distribuição da trindade, eles
presumem ser uma divisão da unidade".[38]
Os Crentes Da Unicidade Desde O Quarto Séculos Até O Presente
Encontramos
evidência da existência de muitos outros crentes da unicidade através
de toda a história da igreja, além daqueles descrito no documento
apresentado neste capítulo. Achamos que os crentes que descobrimos
representam apenas a ponta de um iceberg. Alguns escritores têm
encontrado evidências da existência da doutrina da unicidade entre os
Priscilianistas (de 350 a 700), Euchetas (por volta de 550 a 900), e
Bogomilos (por volta de 900 a 1400). [39]
Parece que a maior parte dos e crentes da unicidade não deixaram
registro escrito. Outros tiveram suas obras escritas destruídas pelos
seus oponentes vitoriosos. Muitos foram perseguidos em martirizados, e
seus movimentos foram destruídos pelo cristianismo oficial. Não sabemos
quantos dos crentes da unicidade e de seus movimentos a história deixou
de registrar, ou, quantos dos assim chamados hereges eram, na realidade,
crentes da unicidade. O que encontramos, no entanto, revela que a
crença da unicidade sobreviveu apesar da violenta oposição que
enfrentou.
Na
idade média, o preeminente estudioso e teólogo Abelardo (1079-1142) foi
acusado de ensinar a doutrina de Sabellius (unicidade). [40] Seus inimigos o impediram de continuar ensinando. Ele procurou refúgio num mosteiro em Cluny, França, e lá morreu.
Com
a reforma muitos se opuseram a doutrina da trindade, aceitando a crença
da unicidade. Um antitrinitarianista famoso do tempo da reforma foi
Miguel Serveto (1511-1553), físico espanhol. Ele teve apenas alguns
seguidores, embora alguns historiadores o considerem como força motriz
do desenvolvimento do unitarianismo. Ele, entretanto, não era,
absolutamente, unitarista, pois aceitava Jesus como Deus. O modo como é
descrito indica, claramente, que ele era um verdadeiro crente da
unicidade: "A negação, por parte de Serveto, da tripersonalidade da
divindade e da eternidade do Filho, junto disse que seu anabatismo
tornou seu sistema abominável tanto aos católicos quanto aos
protestantes, apesar de ser intenso Biblicismo, sou apaixonada devoção a
pessoa de Cristo, e seu esquema Cristocêntrico do universo".[41]
Serveto escreveu: "Não há outra pessoa de Deus a não ser Cristo... a completa divindade do Pai está nele". [42]
Serveto foi tão longe a ponto de chamar a doutrina da trindade de
monstro de três cabeças. Ele acreditava que ela, necessariamente, levava
ao politeísmo que era um engano proveniente do diabo. Ele acreditava,
também, que porque a igreja aceitara o trinitarianismo, Deus permitiria
que ela viesse a ser governada pelos papas e assim, perdesse a Cristo.
Ele não podia entender por que os protestantes mesmo se afastando do
catolicismo ainda insistiam em manter a doutrina da trindade, não
bíblica e criada pelos homens.
Serveto
foi queimado numa fogueira, em 1553, por sua crença na unicidade, com a
aprovação de João Calvino (embora Calvino preferisse que fosse
decapitado). [43]
Emmanuel
Swedenborg (1688-1772) foi um escritor religioso e filósofo sueco que
manifestou um bom entendimento da unicidade de Deus. Ele ensinou várias
outras doutrinas que são muito diferentes daquilo que cremos, mas ele
compreendeu o que Jesus é, realmente. Ele usou o termo trindade,
mas observando que significava apenas "Três tipos de manifestações" e
não uma trindade de pessoas eternas. Ele o usou Colossenses 2:9 para
provar que toda a "Trindade" estava em Jesus Cristo, e se referiu a
Isaías 9:6 e João 10:30 para provar que Jesus era o Pai. Ele negava que o
Filho tivesse sido gerado desde a eternidade, afirmando que o Filho de
Deus era a humanidade pela qual Deus enviara a Si mesmo o mundo. Ele
acreditava, também, que Jesus era Jeová Deus, que assumira a humanidade
para salvar o homem. Swedenborg escreveu:
"Aquele
que não buscar o Deus verdadeiro do céu e da terra, não poderá entrar
no céu, porque o céu é céu do único Deus, e esse é Jesus Cristo, que é
Jeová, o Senhor, desde eternidade o Criador, no tempo o Redentor, e para
a eternidade o Regenerador: conseqüentemente, Aquele que é, ao mesmo
tempo, o Pai, Filho e Espírito Santo; e esse é o evangelho que deve ser
pregado".[44]
Para
ele Deus (Jesus) se compunha do Pai, do Filho, e do Espírito, assim
como o homem se compõe da alma, do corpo e do espírito - uma analogia
inapropriada. No entanto, a explicação de Swedenborg para a divindade é
espantosamente semelhante à aceita pelos crentes da unicidade, hoje.
O
século XIX viu o aparecimento dos escritores da unicidade. John Miller,
ministro presbiteriano, foi um desses crentes da unicidade, na América.
Em seu livro: "É Deus uma Trindade?", escrito em 1876, ele o usou uma
terminologia ligeiramente diferente daquela dos modernos escritores da
unicidade, mas as crenças que ele expressava são basicamente idênticas
às dos crentes da unicidade, hoje. É espantoso ler seu livro e ver quão
perto ele se coloca do ensino da moderna unicidade, inclusive em seu
modo de entender Mateus 28:19. Miller acreditava que a doutrina da
trindade não era bíblica e que ela impedia enormemente a igreja de
alcançar os judeus e os muçulmanos. Ele declarou, enfaticamente, a
perfeita divindade de Jesus Cristo.
Os
crentes da unicidade existiram, também, na Inglaterra do século XIX.
David Campbell relatou ter encontrado um livro, escrito em 1828, que
ensinava a unicidade. [45] O autor era John Clowes, pastor da igreja de São João, em Manchester.
O
século XX a força mais significativa da unicidade têm sido os
Pentecostais da unicidade, embora alguns estudiosos classifiquem o
famoso teólogo neo-ortodoxo, Karl Barth, como modalista (unicidade). [46]
Charles Parham, o primeiro líder do movimento pentecostal do vigésimo
século, começou a ministrar o batismo pela água, em nome de Jesus,
embora, aparentemente, não ligasse essa prática a uma negação explícita
do trinitarianismo. [47]
Depois de 1913, muitos Pentecostais rejeitaram o trinitarianismo e a
fórmula batismal trinitarianista, dando início ao movimento da moderna
unicidade Pentecostal.
Hoje
existe várias organizações da Unicidade Pentecostal. As maiores com
sede nos Estados Unidos da América são: A Igreja Pentecostal Unida
Internacional (sem dúvida a maior), As Assembléias Pentecostais do
Mundo, As Igrejas Mundiais da Bíblia de Nosso Senhor Jesus Cristo, As
Assembléias do Senhor Jesus Cristo, A Igreja do Senhor Jesus Cristo da
Fé Apostólica, e A Santa Igreja Vencedora Apostólica de Deus. Grupos da
Unicidade Pentecostal com sede em outros países inclua A Igreja de
Pentecostal Unida da Colômbia, igreja nacional e a maior igreja não
católica do país; A Assembléia Apostólica da Fé em Cristo Jesus, com
sede no México; o movimento da Unicidade Pentecostal na Rússia.; e a
Verdadeira Igreja de Jesus, uma igreja nacional fundada por crentes
chineses no continente mas cuja sede está agora em Taiwan. Há muitas
organizações menores (aproximadamente 130 no mundo), igrejas
independentes, e comunidades carismáticas que professam a doutrina da
Unicidade Pentecostal. NO BRASIL, AS MAIS CONHECIDADAS SÃO: IGREJA
EVANGÉLICA APOSTÓLICA COM SEDE EM CAMPINAS, SP – IGREJA VOZ DA VERDADE
COM SEDE EM SANTO ANDRÉ, SP – IGREJA ASSEMBLÉIA UNICISTA DO SENHOR JESUS
CRISTO COM SEDE EM VITÓRIA, ES – E COMUNIDADE PENTECOSTAL DO BRASIL
ENTRE OUTRAS.
Para
documentar algumas das afirmativas feitas nesse capítulo, reproduzimos,
a seguir, em estudo preparado em 1978 para uma aula de religião na Rice
University, em Houston, Texas. Note, particularmente, duas importantes
conclusões nos primeiros parágrafos: 1. O trinitarianismo não estava
solidamente estabelecida até o final do quarto século; 2. A grande
maioria dos cristãos da primitiva igreja pós-apostólica adotavam a
unicidade, e esta foi a doutrina mais poderosa a se opor ao ponto de
vista trinitarianista, quando este ganhou adeptos entre os líderes da
igreja.
Essas
conclusões e a informação apresentada no estudo não são apenas de nós
mesmo, mas foram por nós recolhidas de conhecidos historiadores da
igreja e de outras respeitáveis fontes apresentadas nas notas de rodapé e
na bibliografia.
MONARQUIANISMO MODALISTICO:
A UNICIDADE NA HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA
por David Bernard
Qual
é a natureza de Deus? Qual o relacionamento de Jesus Cristo com Deus?
Essas duas questões são fundamentais para o cristianismo. A resposta
tradicional dos cristãos é dada por sua doutrina da trindade.
Entretanto, nos primeiros séculos do cristianismo, essa formulação não
era, de modo algum, a definitiva. De fato, a Nova Enciclopédia Católica afirma
que, nos séculos D.C. "Uma solução trinitarianista estava ainda por
vir" e que o dogma trinitarianista "Não estava solidamente
estabelecido... até o final do quarto século". [48]
Havia
muitas explicações a respeito da natureza de Deus e Cristo, muitas das
quais com boa aceitação pelo mundo todo. Uma das mais importantes delas
foi o monarquianismo modalistico, que afirmava tanto a absoluta unicidade da divindade quando a divindade de Jesus Cristo.
De
acordo com a história da igreja Adolf Harnack, o monarquianismo
modalistico era o mais perigoso rival do trinitarianismo, no período de
que 180 D.C até 300 D.C. De escritos de Hipólito, Tertuliano e Orígenes,
ele inclui que o modalismo era a teoria oficial, em Roma, por quase uma
geração, e era "Adotado pela grande maioria dos cristãos".[49]
Apesar
de sua notória importância, é difícil chegar a uma completa descrição
do que era, realmente o monarquianismo modalistico. Alguns dos mais três
preeminentes modalistas foram Noetus, bispo de Ancyra, e Commodiano.
Pelo menos dois bispos romanos (mais tarde classificados como papas),
Callitus e Zephyrinus, foram acusados de serem modalistas, por seus
oponentes. É difícil conseguir informação acurada respeito desses homens
e suas crenças porque as fontes históricas existentes foram todas
escritas por seus oponentes trinitarianistas cujo interesse era refutar a
doutrina de seus antagonistas.
Sem
dúvida, a doutrina dos modalistas foi mal interpretada, mal apresentada
em distorcida, nesse processo. É impossível, portanto, encontrar uma
descrição precisa das crenças de um modalista, em particular.
Entretanto, colocando lado a lado as diferentes afirmativas a respeito
desses diversos homens, é possível chegarmos a um razoável entendimento
do modalismo. Por exemplo, havia, provavelmente, algumas diferenças na
teologia de Noetus, Praxeas, Sabellius e Marcellus, mas quais eram essas
diferenças fica difícil determinar. É certo, no entanto, que cada um
deles afirmava a perfeita divindade de Jesus Cristo não admitindo
existência de distinção de pessoas na Divindade.
A
doutrina modalista é comumente explicada como sendo, simplesmente, a
crença de que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas manifestações, o
modo de um Deus (à monarquia), e não três pessoas distintas (hipóstase).
Ela deve ser diferenciada do monarquianismo dinâmico que também
sustenta a unicidade de Deus, mas afirmando ser Jesus com ser
subordinado, inferior. Mais precisamente, a monarquianismo modalistico é
a crença que considera "Jesus como a encarnação da divindade" e o “Pai
encarnado”.[50]
Esse
ponto de vista tem óbvia vantagem de manter a forte tradição monoteísta
judaica afirmando, ao mesmo tempo, a crença dos primeiros cristãos em
Jesus, como Deus. Simultaneamente, ela evita os paradoxos e mistérios do
dogma trinitariano. Entretanto, os trinitarianistas argumentam que ela
não explica adequadamente o Logos, o Cristo pré-existente, ou a
distinção bíblica entre o Pai e o Filho. Uma análise do modalismo revela
suas respostas a essas objeções.
Os
monarquianistas modalísticos não apenas tinham um conceito de Deus
diferente daquele dos trinitarianistas, como tinham, também, definições
diferentes do Logos e do Filho. Sua posição básica era a de que o Logos
(o Verbo, em João 1) não é um ser pessoal distinto, mas está unido a
Deus do mesmo modo que um homem e sua palavra. Ele é um poder
"Indivisível e inseparável do Pai", como Justino, o mártir, descreveu a
crença. [51] Para Marcellus, o Logos é o próprio Deus, particularmente sob o aspecto de sua atividade. [52]
Assim, o conceito trinitarianista de Logos como um ser separado
(baseado na filosofia de Philo) era rejeitado. Os modalistas aceitavam a
encarnação do Logos em Cristo, mas para eles isso significava
simplesmente a extensão do Pai, em forma humana.
Muito
ligada a essa idéia está definição modalística do Filho. Eles afirmavam
que o Filho se refere ao Pai vindo em carne. Práxeas negava a
preexistência do Filho, usando o termo Filho aplicado apenas a encarnação. [53] A distinção entre o Pai e o Filho é que Pai
se refere a Deus em Si mesmo, mas Filho se refere ao Pai enquanto
manifestada na carne (em Jesus). O Espírito de Jesus era o Pai, mas Filho se refere especificamente à humanidade e divindade de Jesus. Claramente, então, os modalistas não queriam dizer que Pai e Filho
fossem recíprocos, em terminologia. Queriam, antes, afirmar que as
duas palavras não implicam hipóstases (pessoas) distintas de Deus, mas
apenas diferentes modos de um único Deus.
Pondo
lado a lado os dois conceitos de Logos e Filho, vemos como os
modalistas pensavam a respeito de Jesus. Noetus disse que Jesus era o
Filho por causa de seu nascimento, mas que Ele era também o Pai. [54]
A doutrina modalística do Logos identifica o Espírito de Cristo como o
Pai. A encarnação era como uma teofania final na qual o Pai se revela
completamente. No entanto, esse não era o Docetismo (a crença de que
Jesus era apenas um ser espiritual), porque tanto Práxeas quanto Noetus
enfatizaram os a natureza humana de Jesus, especialmente seus
sofrimentos e suas fraquezas humanas. Como no trinitarianismo, Jesus era
"Verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus".
Para
os modalistas, Jesus era a encarnação de toda a Divindade e não apenas a
encarnação de uma pessoa separada chamada Filho ou Logos.
A
mais comum objeção feita ao monarquianismo modalistico era o
Patripassionismo, que significa, implicitamente que o Pai sofreu e
morreu. Tertulliano foi o primeiro a assim acusar os modalistas. Ele
entendia que o modalismo significava que o Pai é igual ao Filho. Mas
isto significaria que o Pai morreu, uma clara impossibilidade. Desse
modo, Tertulliano procurou ridicularizar e negar o modalismo.
Outros
historiadores, tomando os argumentos de Tertulliano como verdade,
rotularam a doutrina modalistica como Patripassianismo. Não há,
entretanto, nenhum registro de qualquer modalista
afirmando,explicitamente que o Pai sofreu ou que o Pai morreu. Sabellius
evidentemente , negava a acusação de Patripassionismo. [55]
O
assunto todo pode ser facilmente resolvido, percebendo-nos que o
modalismo não ensinava, como Tertulliano suppôs, que o Pai é o Filho,
sim, que o Pai está no Filho. Como afirmou Commodiano, "O Pai entrou no
Filho, em Deus onde que seja."[56] Semelhantemente, Sabellius explicou que o Logos não era o Filho mas era vestido pelo Filho." [57] Outro modalistas em resposta à acusação,explicavam que o Filho sofreu, enquanto o Pai simpatizava ou "sentia com." [58]
Com isso quiseriam dizer que o Filho, o homem Jesus, sofreu e morreu.
O Pai, o Espírito de Deus dentro de Jesus, não poderia ter sofrido ou
poderia ter morrido em qualquer sentido físico, mas, ainda assim, Ele
deve ter sido afetado por, ou participou no sofrimento da carne.
Adequadamente, Zephyrinus diz: "Conheço apenas um Deus, Cristo Jesus, e
além dele nenhum outro que nasceu ou possa ter sofrido… não foia o Pai
que morreu mas o Filho."[59]
Apartir
dessas declarações parece claro que os modalistas afirmaram que o Pai
não era a carne, mas foi revestido ou manifestado na carne. A carne
morreu, mas o Espírito eterno não. Portanto, o Patripassianism é um e
termo enganandor e incorreto para ser usado em relação ao
monarquianismo modalistico.
Basicamente,
então, monarquianismo modalistico ensinavam que Deus não tem nenhuma
distinção de número mas de nome ou modo apenas. O termo Filho se refere à
Encarnação. Isso significa que o Filho não é uma natureza eterna, mas
um modo da atividade de Deus, criado especialmente com a finalidade de
salvar a humanidade. Não há um Filho pre-existente, mas podemos falar
de um Cristo pre-existente uma vez que o Espírito de Cristo é o próprio
Deus. O Logos é visto como se referindo à atividade de Deus. Jesus é,
portanto o Verbo ou a atividade do Pai revestido de carne. O Espírito
Santo não é um ser separado tanto quanto o Logos. O termo Espírito Santo
descreve o que Deus é, e se refere ao poder e açãode Deus no mundo.
Assim, ambos os termos Logos e Espírito Santo se referem ao próprio
Deus, em maneiras específicas de atividade.
O
efeito do monarquianismo modalistico é reafirmação do conceito do
VelhoTestamento de um, Deus indivisível que pode e realmente se
manifesta, e o seu poder de várias maneiras diferentes. Além disso,
Jesus Cristo é identificado como aquele Deus que se manifestou através
da encarnação em um corpo humano. O Modalismo dessa maneira, reconhece
muito mais que o trinitarianismo, a completa Divindade de Jesus, que é
exatamente o aquilo que os modalistas afirmam.. [60] A perfeição e plenitude de Deus é Jesus.
Em
resumo, o monarquianismo modalistico pode ser definido como crença de
que Pai, Filho, e Espírito Santo são manifestações do único Deus sem
distinções de pessoas. Além disso, o único Deus se expressa
completamente na pessoa de Jesus Cristo.
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