Paulo David
Deuteronômio
6:4
“Ouve, Israel, o SENHOR
nosso Deus é o único SENHOR.”
Aqueles que professam
crer na doutrina da trindade, diante desta passagem, tentam explicar que este “único” refere-se à substância divina e
não necessariamente a pessoa, mas afirmar que Deus é um em substância e não em
pessoa faz Dele um único Deus? Era assim que os patriarcas e profetas do velho
testamento entendiam esta passagem? E principalmente, eram assim que os
apóstolos acreditavam?
O que realmente essa
passagem quer nos ensinar sobre Deus?
Proponho aqui dois princípios
simples de interpretação das escrituras, o primeiro é o sentido literal, ou
seja, as escrituras querem nos dizer o que ela nos está dizendo, e o segundo é
o de que as escrituras interpretem as escrituras.
Assim pelo primeiro princípio, quando a bíblia
afirma que Deus é um só ela quer dizer exatamente isso, que só há um ser divino
em natureza, pessoa e substância, único e indivisível. Portanto a unicidade de
Deus não pode ser entendida apenas em termos de substância como afirma a
doutrina da trindade desenvolvida com a formação da igreja católica romana e
que a reforma nunca questionou como também não o fez como inúmeros outros
dogmas tais como o batismo infantil, mantidos até hoje por muitas igrejas ditas
evangélicas.
O mais curioso neste
assunto é o fato de que os que defendem a doutrina de um Deus formado por três
pessoas distintas citam teólogos e concílios católicos e os colocam ao mesmo nível
de autoridade dos apóstolos e das escrituras, e muitas vezes, até acima destes,
tachando de hereges ou pseudo-cristãos aqueles que interpretam as escrituras só
com as escrituras.
É raro um trinitariano
defender a sua doutrina só com as escrituras sem ter que recorrer aqueles que
eles chamam “pais da igreja” ou aos “documentos históricos”. Bom até onde eu
entendo se a igreja tem pais terrenos, “eu disse se”, estes seriam os apóstolos
da bíblia, e a única fonte histórica para qualquer verdade espiritual é a própria
Bíblia.
Mas será que, segundo
as escrituras, a única maneira de diferenciarmos o Pai do Filho é vê-los como
pessoas distintas dentro da divindade? Não poderia Deus enquanto em sua
NATUREZA DIVINA, imarcescível, eterna, infinita, onisciente, onipresente e
onipotente ser assim chamado de PAI e por ocasião da encarnação, ao assumir uma
natureza humana, ser aquele que a bíblia chama de FILHO? Dessa maneira, Deus continuaria ser um só, mas veio a terra assumindo uma outra natureza, a humana.
Não é isso que afirma as escrituras:
João 3:13
“ Ora, ninguém subiu
ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.”
Aqui
Jesus afirma, falando de si mesmo, duas verdades esclarecedoras, uma é que ele
desceu do céu, falando da sua encarnação, a outra, que pode ter parecido
estranho para seus ouvintes, e parece ainda ser para muitos, era que ele estava no céu, o que só teria sentido se
estivesse falando de sua condição Eterna
e Divina, ou alguém acredita que Jesus deixou de ser Deus por ocasião da
encarnação?
Isso
nos leva a outra consideração: Se Jesus é Deus, e este, na encarnação, assumiu
a natureza humana, sem, contudo deixar de ser Deus, e nem que sua natureza divina tenha se misturado a sua
natureza humana, pois uma verdadeira encarnação implica numa perfeita humanidade da pessoa de Jesus e numa separação, por causa da natureza humana, da pessoa do Pai, caso contrário não seria de fato filho de Deus.
Isso
explicaria de forma coerente e verdadeira, entre outras coisas, a necessidade que Jesus tinha de orar e ouvir o Pai.
Por
ocasião da encarnação Deus de fato assumiu uma condição e personalidade humana. Jesus tinha
corpo, alma e espírito humano, tinha limitações humanas, portanto,
nesta condição, estava limitado e totalmente dependente do Pai. Por causa da
encarnação, literalmente Jesus saiu do Pai, por isso as duas naturezas e personalidades, a do Pai e a do Filho, não se misturavam, caso contrário Jesus não seria
de fato humano. Mas e as curas, os milagres, os feitos e conhecimentos
sobrenaturais?
Jesus
mesmo nos dá a resposta;
João
14:10
“ Não crês tu que eu
estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo
de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.”
A
maioria dos cristão crê nas duas naturezas de Cristo, a dificuldade é entender
como elas se relacionavam. A resposta está numa correta compreensão da
encarnação.
Em
nenhum lugar das escrituras encontramos a expressão DEUS FILHO e sim o filho de
Deus. Como vimos o próprio Jesus, em sua condição humana, afirmava sua total dependência
do poder do Pai.
Mateus 19:17A
17 E ele disse-lhe:
Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus.
Se
cremos que Jesus é Deus, essa escritura só faz sentido se a distinção entre pai
e Filho for de natureza e não de pessoa.
Agora
examinemos outra escritura utilizada pelos defensores da doutrina da trindade:
E
João 1:1?
1”No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”
Se
Deus é uma só pessoa por que nesta escritura encontramos que o VERBO estava com Deus?
Bom
aqui temos o desenvolvimento de um pensamento que começa com “No princípio era
o Verbo”. A que princípio a bíblia se refere? Ao princípio de todas as coisas
criadas. O pensamento termina com a declaração clara e solene que “o verbo era
Deus”. Para quem crê que só existe um único Deus como pessoa, o verbo é esse
Deus. Mas então por que João diz: “o verbo estava com Deus”? Para responder a esta pergunta sem ferir as
escrituras sobre a verdade de um único Deus, temos que entender um pouco mais
sobre a natureza do Pai. Uma das poucas escrituras do velho testamento que se
refere a Deus como o Pai, o chama de PAI DA ETERNIDADE, mas este título é atribuído
a JESUS em Isaías 9:6:
“Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se
chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”
O
título de Pai nas escrituras é atribuído a Deus enquanto Deus possuidor de
exclusivos e infinitos atributos, tais como eterno, infinito e imarcescível.
Deus em seu estado divino. Isto posto, podemos então entender a relação entre o
Pai e o Verbo. Vamos usar como exemplo a relação entre o Sol e a luz. Assim
como a luz emana do sol, o VERBO emana do pai sem ser outra pessoa distinta mas
antes a manifestação deste no princípio. É o próprio Deus manifesto na criação,
é Deus no princípio. Note que a bíblia ao se referir à eternidade, antes do
princípio, só menciona o Pai da Eternidade. Ao contrário do que afirmam as Testemunhas de Jeová, que Jesus seria o
princípio da criação de Deus, a primeira criatura, ou do que afirmam certos
judeus messiânicos, que Jesus seria feito da substância divina, uma espécie de
molde da criação, o que as escrituras afirmam nesta passagem é que JESUS é o
próprio Deus ( o verbo era Deus) manifesto no princípio da criação. Não uma segunda e outra pessoa da divindade, mas o
único Deus- manifesto. O Logus, o Deus criador:
João
1:3
“Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”
A
bíblia se interpreta com a bíblia:
Hebreus 1:1-3
“1 HAVENDO Deus
antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,
2 A quem constituiu
herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.
3
O qual, sendo o resplendor da sua glória,
e a expressa imagem da sua pessoa, e
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si
mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas
alturas;”
Note
aqui de forma bem clara que o livro de hebreus refere-se a JESUS como a
expressa imagem da PESSOA DE DEUS e não como uma outra pessoa da divindade.
Assim vemos claramente que em termos de natureza o filho não é o Pai, mas a encarnação
da pessoa de Deus, que em termos de manifestação o VERBO não é o Pai, e sim a
manifestação deste, mas que em ambos os casos estamos falando da MESMA E ÚNICA
PESSOA DIVINA.
Uma
correta e bíblica compreensão da encarnação pode ser a chave para entendermos o
mistério da Divindade revelado nas escrituras, como o mistério da piedade:
I
Timóteo 3:16
“E, sem dúvida
alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi
justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo,
recebido acima na glória.”
Aqui
as escrituras revelam de forma clara que foi Deus quem se manifestou em carne,
o próprio Deus, o único Deus.
Para
os que acreditam e ensinam que foi só a segunda pessoa da trindade que
tornou-se homem vai aí outra escritura:
Colossenses
2:9
“ Porque nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade;”
A
passagem de I Timóteo 3:16 nos revelam não apenas que o Único Deus se
manifestou em carne mas que depois de realizar nossa salvação ele foi recebido
na glória. Na glorificação de Jesus como homem O Pai e o filho foram unidos de
uma forma tal que a natureza humana de Jesus foi revestida da natureza do Pai. Jesus
não voltou a condição anterior à encarnação, Deus não deixou sua natureza
humana, mas antes a revestiu com sua natureza divina. Assim e só assim Ele pôde
nos dar o Seu Espírito.
João
16:7
“Todavia digo-vos a verdade, que vos convém
que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu
for, vo-lo enviarei. “
João
14:16-20
16 E eu rogarei ao
Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;
17 O Espírito de
verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita
convosco, e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.
19 Ainda um pouco, e
o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia
conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os
meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será
amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
22 Disse-lhe Judas (
não o Iscariotes ): SENHOR, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não
ao mundo?
23 Jesus respondeu, e
disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
As
escrituras deixam claro que o Espírito Santo não é outra pessoa na divindade e
sim o Espírito de Jesus Glorificado. Deus em nós, o eterno propósito da
criação.
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